Nas décadas de quarenta,
cinquenta e sessenta, quase de tudo moderno não existia, a comunicação era
feita através dos correios, do envio da comunicação ao recebimento, tinha uma
duração de trinta a quarenta dias, o transporte era feito através da costa do
Jegue e mais tarde, caminhão. Não
existia casa de saúde era “ Samarica Parteira” que resolvia tudo e ainda se
tornava segunda mãe da criança.
O preparo da terra
era realizado através da enxada, cavador, foice e machado, a água era retirada
da cacimba, conduzida numa moringa e a geladeira era um pote de barro, um na Cantareira
e outro na cozinha. O arroz era poupado no tronco de aroeira e duas mãos de
pilão da mesma madeira, onde as mulheres se divertiam jogando “tum-tum”.
A colheita do
arroz, era realizada com uma “faquinha”
feita especialmente para esse cultivo, fabricado pela indústria Cesam. Para chegar ao ponto de ser ensacado,
era necessário afastar os grãos dos talos, que era feito através de pedaço de
madeira de um metro e meio, que o homem através
da forças dos seus braços batia até
fazer a separação dos grãos.
Não havia
inseticida, quando se preparava a terra para o novo plantio, juntava-se o
bagaço com um ciscador de marmeleiro de dois dentes ou tridente, e já se
coletava a bosta secas das vacas que servia de inseticida que afastava as muriçocas
que serviam de estímulo ao agricultor como previsão de rios cheios, mas que perturbavam
durante a noite. As lagartas eram beneficentes, elas vinham para comer as
folhagens velhas, para fazer brotar uma ramagem nova, que vinha com flores para
produzir os novos frutos.
Na colheita dessa
nova safra, se comemorava com novenas aos santos protetores, com especialidade São
Sebastião que era o protetor da agricultura, dos homens e dos animais, e que
ainda hoje, se reza a oração de mais fé, contra a peste, fome, guerra e doenças
contagiosas e mortes repentinas “(...) Glorioso mártir São Sebastião, protegei-nos contra a peste, a fome e a guerra; defendei as nossas
plantações e os nossos rebanhos, que são
dons de Deus para o nosso bem e
para o bem de todos. E defendei-nos do pecado, que é o maior de todos os males".
Os festejos populares eram comemorados com danças, fogueiras,
quadrilhas animadas com fogos de artifícios, em homenagem as colheitas, para os
santos que ajudaram nessa nova colheita de fartura, entre eles: São José –
manda chuva, Santo Antônio – o Casamenteiro,
São João - o que batizava e São Pedro-
para abrir as portas do céu.
Nessa época não existia banda de música, só existia fole de oito
baixos, triangulo, pandeiro e zabumba. Ainda hoje, guardam-se na memória alguns
fragmentos dessa cultura, através de alguns nomes que ainda temos na memória:
João Guedes, Bié e José Calixto.
Nos botecos de aguardente, lembramo-nos de Antônio Catingueira
e Manoel do Piancó, que numa dessas festas juninas, fizeram um sociedade no
boteco, como eles não podiam beber na sua própria venda, Antônio Catingueira
pegou algumas moedas e foi dar uma volta, ao retornar ao boteco, antes de assumir
a responsabilidade, pediu que Manoel do Piancó seu sócio, que lhe servisse uma cachaça;
depois de algum tempo, Manoel do Piancó, pediu ao eu sócio para ficar na venda
enquanto ele dava uma volta, depois de
algum tempo, retornou e antes de assumir a responsabilidade, também pediu que Antônio
Catingueira lhe servisse uma cachaça, e assim passaram a noite, enquanto um
dava a volta o outro servia a cachaça e visse versa, assim beberam todo o
estoque e não apuraram nada.
Nos anos quarenta Luiz Gonzaga - O Rei do Baião trouxe uma
sanfona de cento e vinte baixos, para chamar atenção dos nordestinos. Raimundo
Jacó – O vaqueiro gritou no meio do povo: “ Luiz seu moleque, respeita Januário,
o fole de Januário só tinha oito baixos,
mas prestando bem atenção ele toca em todos os oito e sua que tem cento e vinte
baixo, só toca em dois”.
Naquele tempo só havia três tipos de forró, o forró dos
ricos, o forró dos pobres e o forró dos lascados, mas o forró dos lascados esse
é o que era bom, lá se dançava, bebia e forrozava.
Por isto, ainda hoje fico com o que Raul Seixas diz: “Eu prefiro ser
essa metamorfose ambulante, do que ter
aquela velha opinião formada sobre tudo”. Porque com toda modernidade e avanços tecnológicos
não sabemos aonde vamos parar, esquecemos o passado, e não aprendemos nada para
o futuro.
Juazeiro do Norte(CE), 02 de Março de 2015.
Padre José Robério Felipe.