Quando ainda, na
minha pequena juventude, ouvia dizer pelos mais velhos que um homem resolveu
ser enterrado vivo, porque não tinha coragem para trabalhar. Um viajante disse:
não enterre esse homem, eu tenho muitas bananas e dou para ele comer, o homem
levantou e cabeça e perguntou: as bananas já estão descasadas? O viajante Respondeu:
não! Homem falou: Pode tocar com o
enterro.
Os tempos mudaram
hoje os pais recebem o bolsa família (vale gás, bolsa escola), auxilio
maternidade e auxílio às mulheres de vida fácil.
Cheguei ao Paraíso
Perdido, para ver como estavam às coisas, durante o tempo em que estive lá,
olhei as outras propriedades e consegui avistar cinco homens trabalhando,
retocando cerca, dando água ao gado, cavando poço, cortando capim para outros
animais, plantando cana-de-açucar e levando o gado para o curral. Fiquei feliz!
Perguntei: quem são esses que estão trabalhando? Responderam: o Doutor
Chiquinho, Dr. Evalnildo, Dr. Carlos, Dr. Tércio e aquele? É o Padre Robério.
O que faziam o
restante dos homens? Uns tentavam navegar nas redes sociais, as mulheres e
filhas preocupadas em grande silêncio, assistindo a novela “Rei do Gado”-
reprisada e jovens passeando em motos.
Um fato emocionante
aconteceu: Chico Catingueira saiu para pescar de anzol e encontrou uma rede de
pesca armada, foi até lá e retirou alguns peixes, voltou logo, a mulher
perguntou o que aconteceu que pegou
tanto peixe? Foi que hoje o dia estava
bom para pesca. Mas nunca ouvi dizer que Curimatã e Piau caíssem tanto em
anzol? Ele respondeu: mulher os tempos mudaram! Eu ouvi dizer que Norte ia
virar Sul e Sul ia virar Norte.
“O desejo
do preguiçoso o mata, porque as suas mãos recusam trabalhar” Provérbios -(21:25);
Tudo isso me fez lembrar do “ABC Do Preguiçoso”:
“Marido se alevanta e vai armá um mundé
Prá pegá uma paca gorda prá nóis cumê um sarapaté
Aroeira é pau pesado num é minha veia
Cai e machuca meu pé e ai d´eu sodade
Marido se alevanta e vai na casa da tua avó buscá
A ispingarda dela procê caçá um mocó
Só que no lajedo tem cobra braba num é minha veia
Me morde e fica pió e ai deu sodade
Entonce marido se alevanta e vai caçá uma siriema
Nóis come a carne dela e faiz uma bassora das pena
Ai quem dera tá agora num é minha veia
Nos braço duma roxa morena e ai d´eu sodade
Sujeito alevanta e vai na casa do venderão
Comprá uma carne gorda prá nois fazê um pirão
É que eu num tenho mais dinheiro num é minha veia
Fiado num compro não e ai d´eu sodade
Ô marido se alevanta e vai na venda do venderim
Comprá deiz metro de chipa prá fazê rôpa pros nossos fiim
Ai dentro tem um colchão véio num é minha veia
Desmancha e faiz umas carça prá mim e ai d´eu sodade
Disgramado se alevanta, deixa de ser preguiçoso
O homi que num trabáia num pode cumê gostoso
É que trabáia é muito bom num é minha veia
Mas é um pouco arriscoso e ai d´eu sodade
Ô marido se alevanta e vem tomá um mingau
Que é prá criá sustança prá nóis fazê um calamengal
Brincadêra de manhã cedo num é minha veia
Arrisca, quebrá o pau e ai d´eu sodade
Marido seu disgraçado tu ai de morrê
Cachorro ai de ti lati e urubu ai de ti cume
Se eu subesse disso tudo num é minha veia
Eu num casava cum ocê e ai deu sodade”.
( Música – Xangai)
Juazeiro do
Norte(CE), 27 de Fevereiro de 2015.
Padre José Robério Felipe.