domingo, 20 de março de 2016

QUEM POUCO FAZ, POUCO PRODUZ






 Não sei se por merecimento ou por sina, foi este o paraíso perdido, cercado por quatro serras, sítio Poços dos Paus, por ter muitas árvores ricas e muitos olhos d’água. A casa do meu pai foi construída dentro da mata, as poucas visitas que tínhamos eram as onças, quando vinham pegar os bodes para comerem, meu pai não sabe por medo só percebia no outro dia a falta dos animais.

Os outros homens habitantes deste local, com medo começaram a cortar as árvores deste paraíso e olhos d’água desapareceram. As estradas de carroçal só era passada uma máquina de quatro em quatro anos, quando havia eleições e nada mais era feito.

Quando eu era garoto de seis a sete anos, minha mãe me chamou para eu servir de companhia para assistir a uma missa, a capela era pobre não tinha bancos e um mau cheiro de morcegos era insuportável. O padre só servia para brigar com as pobres mulheres. Ainda hoje lembro o Evangelho e da pobre homilia, o evangelho foi Lucas ( 16: 26- 31). Vamos sofrer aqui na terra sem se reclamar, para quando chegarmos aos céus haverá um banquete para os pobres  e os ricos passarão fome.

No caminho de volta, eu disse a minha mãe que não tinha gostado do que o padre falou ele estava mentindo, quando eu fosse grande eu ia ser padre  para falar a verdade para o povo e Deus e me ouviu.

Eu não tinha conhecimento do seriado O Auto da Compadecida, que por dinheiro o padre fazia o sepultamento da cachorra e ainda em Latim. O Faraó do Egito por motivo de um sonho convocou todos os sábios do reino conhecedores do assunto, para interpretar, para ele pudesse fazer alguma coisa pelo seu povo, pois sonhou “ com sete vacas magras que comia as sete vacas gordas, e sete espigas de milho cheia que era devoradas por sete espigas vazias”.

Em mil novecentos e quinze, houve uma grande seca no nordeste e agora,  cem anos depois a seca se repetiu e nada tinha sido feito para evitar a miséria  ocorrida no passado. A seca do nordeste começou em abril de dois mil e onze e estamos em março de dois mil e dezesseis, está faltando um mês para cem anos de seca e nenhum governante brasileiro teve  a idéia do governo egípcio para evitar a mesma miséria  que se repete.

Antes tínhamos orgulho de sermos o maior país religioso do mundo, ninguém mais acredita em religião, era o maior país do futebol, não se ganha mais nenhuma copa, era a maior floreta do mundo, hoje só há grande devastação, os rios era os mais volumosos, com a poluição dos rios nem os peixes sobreviveram, o maior país do carnaval e do verde e amarelo que era o símbolo da paz, hoje é símbolo da criminalidade em todos os aspectos.

O povo já falava que o brasileiro tinha memória curta e o futuro de um país, estava nas crianças, mas a situação do Brasil piorou e as crianças estão nascendo sem cérebros.

Deus ver todas as coisas, passado, presente e futuro e até os nossos pensamentos, mas parece que Deus esqueceu o Brasil ou o Brasil está fora do mapa mundi. É um paraíso perdido.

Juazeiro do Norte (CE), 20 de março de 2016.

Padre José Robério Felipe



























quarta-feira, 2 de março de 2016

A MORIÇOCA E A LAGARTA



Nas décadas de quarenta, cinquenta e sessenta, quase de tudo moderno não existia, a comunicação era feita através dos correios, do envio da comunicação ao recebimento, tinha uma duração de trinta a quarenta dias, o transporte era feito através da costa do Jegue  e mais tarde, caminhão. Não existia casa de saúde era “ Samarica Parteira” que resolvia tudo e ainda se tornava  segunda mãe da criança.

O preparo da terra era realizado através da enxada, cavador, foice e machado, a água era retirada da cacimba, conduzida numa moringa e a geladeira era um pote de barro, um na Cantareira e outro na cozinha. O arroz era poupado no tronco de aroeira e duas mãos de pilão da mesma madeira, onde as mulheres se divertiam jogando “tum-tum”.

A colheita do arroz, era realizada com uma “faquinha”  feita especialmente para esse cultivo, fabricado pela indústria  Cesam. Para chegar ao ponto de ser ensacado, era necessário afastar os grãos dos talos, que era feito através de pedaço de madeira de um metro e meio, que o homem através  da forças dos seus braços batia até  fazer a separação dos grãos.

Não havia inseticida, quando se preparava a terra para o novo plantio, juntava-se o bagaço com um ciscador de marmeleiro de dois dentes ou tridente, e já se coletava a bosta secas das vacas que servia de inseticida que afastava as muriçocas que serviam de estímulo ao agricultor como previsão de rios cheios, mas que perturbavam durante a noite. As lagartas eram beneficentes, elas vinham para comer as folhagens velhas, para fazer brotar uma ramagem nova, que vinha com flores para produzir os novos frutos.

Na colheita dessa nova safra, se comemorava com novenas aos santos protetores, com especialidade São Sebastião que era o protetor da agricultura, dos homens e dos animais, e que ainda hoje, se reza a oração de mais fé, contra a peste, fome, guerra e doenças contagiosas e mortes repentinas “(...) Glorioso mártir São Sebastião, protegei-nos contra a peste, a fome e a guerra; defendei as nossas plantações  e os nossos rebanhos, que são dons de Deus para o nosso bem e para o bem de todos. E defendei-nos do pecado, que é o maior de todos os males".

Os festejos populares eram comemorados com danças, fogueiras, quadrilhas animadas com fogos de artifícios, em homenagem as colheitas, para os santos que ajudaram nessa nova colheita de fartura, entre eles: São José – manda chuva, Santo Antônio –  o Casamenteiro, São João  - o que batizava e São Pedro- para abrir as portas do céu.

Nessa época não existia banda de música, só existia fole de oito baixos, triangulo, pandeiro e zabumba. Ainda hoje, guardam-se na memória alguns fragmentos dessa cultura, através de alguns nomes que ainda temos na memória: João Guedes, Bié e José Calixto.

Nos botecos de aguardente, lembramo-nos de Antônio Catingueira e Manoel do Piancó, que numa dessas festas juninas, fizeram um sociedade no boteco, como eles não podiam beber na sua própria venda, Antônio Catingueira pegou algumas moedas e foi dar uma volta, ao retornar ao boteco, antes de assumir a responsabilidade, pediu que Manoel do Piancó seu sócio, que lhe servisse uma cachaça; depois de algum tempo, Manoel do Piancó, pediu ao eu sócio para ficar na venda enquanto ele dava  uma volta, depois de algum tempo, retornou e antes de assumir a responsabilidade, também pediu que Antônio Catingueira lhe servisse uma cachaça, e assim passaram a noite, enquanto um dava a volta o outro servia a cachaça e visse versa, assim beberam todo o estoque e não apuraram nada.

Nos anos  quarenta  Luiz Gonzaga - O Rei do Baião trouxe uma sanfona de cento e vinte baixos, para chamar atenção dos nordestinos. Raimundo Jacó – O vaqueiro gritou no meio do povo: “ Luiz seu moleque, respeita Januário, o  fole de Januário só tinha oito baixos, mas prestando bem atenção ele toca em todos os oito e sua que tem cento e vinte baixo, só toca em dois”.

Naquele tempo só havia três tipos de forró, o forró dos ricos, o forró dos pobres e o forró dos lascados, mas o forró dos lascados esse é o que era bom, lá se dançava, bebia e forrozava.

Por isto, ainda hoje fico com o que Raul Seixas diz: “Eu prefiro ser
essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.  Porque com toda modernidade e avanços tecnológicos não sabemos aonde vamos parar, esquecemos o passado, e não aprendemos nada para o futuro.

Juazeiro do Norte(CE),  02 de Março de 2015.
Padre José Robério Felipe.